Faz umas duas ou três semanas eu comecei a fazer aulas de música. Uns vinte anos atrás eu e meu irmão convencemos nosso pai a nos matricular em uma escola de música no bairro vizinho ao nosso. À época eu resolvi que ia aprender teclado. Íamos às aulas com algum entusiasmo de início, mas esse foi logo se apagando. Dizia que o problema em aprender o instrumento era a distância (íamos à pé em uma caminhada que envolvia um belo morro para subir e outro para descer) e a preguiça de montar todo o circo para praticar o teclado (em retrospecto, acho que era tudo uma racionalização para justificar minha pura falta de desejo em aprender aquile).
Alguns anos depois, enquanto lecionava em uma igreja perto de casa resolvi que queria aprender violão, afinal era um instrumento muito mais popular e portátil. Aprendi meia dúzia de coisas, cheguei até a fazer uma apresentaçãozinha na igreja tocando um bluesinho meio mequetrefe, mas no final minha falta de disciplina e frustração em não conseguir acertar a empunhadura do instrumento acabaram por me afastar novamente. Hoje o violão está com meu irmão mais novo.
Acontece que eu sempre gostei de cantar. Muitos amigos conhecem minha “desenvoltura”, pra não dizer falta de vergonha no karaokê. Na primeira escola em que lecionei, dava aulas com música para turmas de níveis variados e me divertia bastante e sempre tentava usar músicas como estratégia de ensino de pronúncia e prosódia nas aulas, para além de exercícios de gramática ou vocabulário. Já então, pensava em aprender a cantar mesmo, até para poder controlar melhor minha voz.
Há cerca de um mês e pouco decidi me matricular numa escola de música (de franquia) que se instalou aqui perto de onde (neste momento) eu moro e tentar aprender (claro que eu ainda não tinha decidido me mudar à época, mas isso fica pra outra hora). Meu professor é um sujeito bastante descolado, cheio de tatuagens nerd, tipo starwars e tals e me passa bastante confiança. Me perguntou sobre que tipos de música eu gosto e já começamos a montar algum repertório (Tim Maia e Fagner) até agora. Aparentemente eu sou um barítono.
Ontem tive minha primeira aula de teoria. Sou o único homem da sala e, certamente devo ter o dobro da idade de minhas coleguinhas, o que, não dá pra negar, gera algum desconforto.
Enquanto o professor falava tive a sensação descrita por muitos dos meus alunos no passado de estar ouvindo um monte de blá-blá-blá sem sentido, mas que o professor articulava como se fosse óbvio (intervalo, grau, compassos acruísticos[?]). É sempre curioso estar de volta à carteira de aluno.
De qualquer maneira, acho que é um bom começo de ano: aprender uma coisa nova, uma língua nova e treinar meu ouvido para algo que gosto, mas não conheço o suficiente para apreciar com propriedade.
Esse ano promete.